Rio+20 deve ser uma conferência apartidária, porém política e econômica, propositora de ideias e projetos, socioambiental sustentáveis, e não apenas um espaço de discurso frio, e sem noção da realidade presente e futura, dos estadistas do mundo.
Em 1992, a cidade do Rio de Janeiro reuniu líderes mundiais em busca de uma nova agenda de desenvolvimento e que resultou na Agenda 21, convenções (do Clima e da Biodiversidade) e declarações de princípios das Nações Unidas.
De lá pra cá as coisas mudaram? Por exemplo, as formas de produzir e consumir!
Mas será que essas formas estão sendo efetivas e em prol de uma nova ordem mundial verde?
“Uma avaliação honesta sugere que, embora avanços tenham sido feitos e as inovações tenham ocorrido, temos fracassado com frequência em consolidar novas estruturas de macro-política que representem verdadeiramente uma mudança nos negócios”, afirma Leisa Perch, especialista em políticas públicas e coordenadora da área de Desenvolvimento Rural e Sustentável do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), por meio de artigo recente, intitulado “O que se quer com a economia verde?”.
O Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Pnuma), relata que os danos ambientais foram estimados em US$ 6,6 trilhões somente em 2008, enquanto a Agência Internacional de Energia indica que as emissões de gás carbônico em 2010 foram as maiores já registradas.
De acordo com a jornalista Amália Safatle o que muitos chamam de sustentabilidade não passa de uma maneira de sustentar o business as usual (o mesmo jeito de fazer negócios de sempre), mas com uma boa camada de tinta verde por fora, de forma a aumentar sua aceitação.
"Apropriar-se do que vem provocar mudanças, reempacotá-lo conforme a conveniência e usá-lo não para mudar, para fortalecer o status quo, é a maneira de o sistema dominante perpetuar-se no comando da situação. Ou seja, de sustentar seu status quo", diz Safatle.
“No próximo ano, a Conferência Rio +20 não pode ser business as usual”, comenta Leisa. (O encontro terá dois eixos temáticos: a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza; e o arcabouço institucional para o desenvolvimento sustentável.)
Assim como Leisa, tem muita gente preocupada com o risco de a chamada economia verde não se prestar aos objetivos para os quais foi pensada: não só mais limpa e de baixo carbono, mas inclusiva socialmente e emancipadora das classes desfavorecidas.
Safatle diz que para se ter ideia de que como mudanças efetivas dependem sobretudo de mudanças de valores, basta pegar um exemplo: o do efeito ricochete. Em poucas palavras, é o fenômeno pelo qual o dinheiro poupado com o uso de uma tecnologia mais eficiente acaba sendo usado em outra oportunidade de consumo – fazendo com que as emissões de carbono não caiam, como de fato não caíram.
Assim, uma família que economizou dinheiro trocando lâmpadas incandescentes pelas econômicas usa essa poupança para comprar produtos que não podia comprar antes, mantendo o nível de emissões de carbono. Exemplos como este aplicam-se a tudo.
Como o capitalismo fará para ser verde – uma vez que sua força motriz é o crescimento contínuo em um mundo de recursos finitos – é uma grande incógnita. Ou se reforma profundamente essa lógica, ou essa lógica quebrará todos nós. Eis um debate para se por em prática no processo de formulação da Conferência da Rio+20. By. Ton.