3 de fevereiro de 2013

Cartas de Créditos Bancárias

A hegemonia do setor financeiro segue sendo a mesma. Enquanto essa hegemonia não for modificada não se pode falar de um novo modelo. Na União Europeia, em que os países vivem sob o jugo das receitas de austeridade, a crise não dá folga, no entanto, o modelo neoliberal e a financeirização seguem funcionando no piloto automático. Apesar disso, há algumas tímidas tentativas no marco do capitalismo desenvolvido para sair do laissez-faire e intervir com políticas que estimulem o setor produtivo e beneficiem setores mais amplos da população.

As três economias mais importantes do planeta são exemplos de tímido reconhecimento da necessidade de uma mudança. Com Barack Obama, os Estados Unidos colocaram o acento em uma recuperação industrial e na limitação de sua dependência importadora, o que o levou o presidente a enfrentar todo o lobby político-midiático que se opunha ao resgate da General Motors.

No caso da segunda potência planetária, a China, foi posta em marcha uma mudança na direção de um modelo mais centrado no consumo e menos na exportação e na mão de obra barata. Este novo modelo, que a China pretende completar na presente década, requer melhores salários e maiores direitos sociais (acesso à saúde, educação, etc.). 

Na terceira economia mundial, o Japão, o novo governo do primeiro ministro Shinzo Abe apostou em um estímulo fiscal e em uma maior intervenção do Banco Central que flexibilizou seu rígido objetivo de inflação anual de 1% em favor de um com margem de 2%.

“São políticas dispersas, sem nada que defina um programa, mas apontam na direção da tendência histórica que é o pêndulo. Ou seja, o keynesianismo dos anos 30 apareceu depois do laissez-faire ultraliberal que dominou o pensamento econômico desde o século XIX. Este ultraliberalismo reapareceu nos anos 70 com a crise de keynesianismo”, afirma Eduardo Plastino, analista sênior da empresa de consultoria britânica Oxford Analytika.

O programa de privatizações, liberalização comercial e desregulação consagrado no início dos anos 90 no famoso Consenso de Washington teve como resultado a crescente financeirização da economia e uma explosão do que, em inglês, é denominado pela sigla FIRE (Financiamento, Seguro e Setor Imobiliário). “Esta crescente importância do setor financeiro produz um deslocamento do investimento. O caso da General Motors é emblemático. Entre outras atividades financeiras, a empresa chegou a investir no mercado hipotecário. Isso não é uma simples atividade adicional de uma empresa para aumentar o rendimento de seu capital. É um deslocamento. Em vez de investir na produção começa-se a concentrar o investimento em produtos financeiros que oferecem lucros a curto prazo”, destaca o catedrático de economia comparada da Universidade de Cambridge, Gabriel Palma.

Nos anos 30, o capitalismo encontrou rapidamente uma saída para a crise abandonando o laissez-faire reinante e abraçando o keynesianismo. No epicentro da crise, os Estados Unidos, o New Deal de Franklin D. Roosevelt marcou uma virada radical no manejo da economia que contrasta com a falta de propostas que se observa na atual crise.

“Ocorreu um esvaziamento intelectual da esquerda após a queda do muro de Berlim. O que ocorreu na Europa é que a esquerda terminou comprando o discurso neoliberal. O melhor exemplo deste esvaziamento é o ‘Blairismo’ no Reino Unido e a terceira via”, conclui Palma. Fonte: Carta Maior. By Ton.

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