A hegemonia do setor financeiro segue sendo a mesma. Enquanto essa
hegemonia não for modificada não se pode falar de um novo modelo. Na União Europeia, em que os países vivem sob o jugo das receitas de
austeridade, a crise não dá folga, no entanto, o modelo neoliberal e a
financeirização seguem funcionando no piloto automático. Apesar disso,
há algumas tímidas tentativas no marco do capitalismo desenvolvido para
sair do laissez-faire e intervir com políticas que estimulem o setor
produtivo e beneficiem setores mais amplos da população.
As três economias mais importantes do planeta são exemplos de tímido reconhecimento da necessidade de uma mudança. Com Barack Obama,
os Estados Unidos colocaram o acento em uma recuperação industrial e na
limitação de sua dependência importadora, o que o levou o presidente a
enfrentar todo o lobby político-midiático que se opunha ao resgate da
General Motors.
No caso da segunda potência planetária, a China, foi posta em marcha
uma mudança na direção de um modelo mais centrado no consumo e menos na
exportação e na mão de obra barata. Este novo modelo, que a China
pretende completar na presente década, requer melhores salários e
maiores direitos sociais (acesso à saúde, educação, etc.).
Na terceira
economia mundial, o Japão, o novo governo do primeiro ministro Shinzo
Abe apostou em um estímulo fiscal e em uma maior intervenção do Banco
Central que flexibilizou seu rígido objetivo de inflação anual de 1% em
favor de um com margem de 2%.
“São políticas dispersas, sem nada que defina um programa, mas
apontam na direção da tendência histórica que é o pêndulo. Ou seja, o
keynesianismo dos anos 30 apareceu depois do laissez-faire ultraliberal
que dominou o pensamento econômico desde o século XIX. Este
ultraliberalismo reapareceu nos anos 70 com a crise de keynesianismo”, afirma Eduardo Plastino, analista sênior da empresa de
consultoria britânica Oxford Analytika.
O programa de
privatizações, liberalização comercial e desregulação consagrado no
início dos anos 90 no famoso Consenso de Washington teve como resultado a
crescente financeirização da economia e uma explosão do que, em inglês,
é denominado pela sigla FIRE (Financiamento, Seguro e Setor
Imobiliário). “Esta crescente importância do setor financeiro produz um
deslocamento do investimento. O caso da General Motors é emblemático.
Entre outras atividades financeiras, a empresa chegou a investir no
mercado hipotecário. Isso não é uma simples atividade adicional de uma
empresa para aumentar o rendimento de seu capital. É um deslocamento. Em
vez de investir na produção começa-se a concentrar o investimento em
produtos financeiros que oferecem lucros a curto prazo”, destaca o catedrático de economia comparada da Universidade de Cambridge, Gabriel Palma.
Nos anos 30, o capitalismo encontrou rapidamente uma saída para a crise abandonando o laissez-faire reinante e abraçando o keynesianismo. No epicentro da crise, os Estados Unidos, o New Deal
de Franklin D. Roosevelt marcou uma virada radical no manejo da
economia que contrasta com a falta de propostas que se observa na atual
crise.
“Ocorreu um
esvaziamento intelectual da esquerda após a queda do muro de Berlim. O
que ocorreu na Europa é que a esquerda terminou comprando o discurso
neoliberal. O melhor exemplo deste esvaziamento é o ‘Blairismo’ no Reino
Unido e a terceira via”, conclui Palma. Fonte: Carta Maior. By Ton.
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